quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Daughter no Luxemburgo - Report

Nunca gostei muito de ver amigos a ter de sair do País para procurar uma vida melhor, mas se forem mesmo melhorar a sua vida, acabo por me conformar com a ideia. Além disso, da maneira como têm evoluído as comunicações, as distâncias encurtam-se e, ao fim e ao cabo, só não temos a presença física.
Depois de ter a Cláudia Fernandes a fazer uma reportagem (Dead Combo no Luxemburgo) para este blog, desafiei o Rui para fazer o mesmo, desta vez tratou-se do concerto de Daughter, uma das bandas da 4AD que mais me agradou, nos últimos anos, e assim acabo por encontrar mais algo de positivo na ida para o estrangeiro de alguns amigos.
Fiquem então com a belíssima e muito completa reportagem do Rui Gonçalves:




16 de Outubro, 2016 - Daughter @ den Atelier, Luxembourg


Para enquadrar quem não conhece, o den Atelier é uma pequena sala de espectáculos que pode acolher cerca de 1200 pessoas. Uma conversão de uma antiga garagem de camiões, perto da estação de comboios da cidade do Luxemburgo, inaugurada em 1995, e onde já tocaram bandas como os Arctic Monkeys, Garbage, Muse ou The Smashing Pumpkins. A última vez que ali tinha estado, naquela sala, foi precisamente para ver outra mulher inglesa e também guitarrista – Anna Calvi.
Sem querer fazer comparações exaustivas entre estilos, atitudes ou música, era curioso ver as diferenças. Era sobretudo notório que desta vez a sala estava mais cheia e o público era mais jovem e mais conhecedor do que vinha ver e ouvir.
No entanto, quando entrámos ainda estava muita gente por chegar. Dan Croll, estava responsável por aquecer o público com a sua música folk-electro-indie-pop e fazia-se acompanhar de um guitarrista e de um teclista. Sempre de bom humor e interagindo com o público foi tocando algumas coisas interessantes como "From Nowhere", "Home" ou o seu último single "Swim", enquanto a sala enchia.

Uma música limpinha e agradável sabe sempre bem como aperitivo, mas o público ansiava ver e ouvir Elena Tonra e os seus pares pelo que a despedida não foi dolorosa. E a ovação com que os Daughter foram recebidos em palco fazia esperar uma atmosfera calorosa acompanhada de música melancólica. Sem grandes palavras, para além de um "boa noite" por parte do guitarrista/teclista Igor Haefeli, começaram com as duas primeiras faixas do seu último álbum "Not To disappear".
Em constante crescendo, construindo inicialmente paredes sonoras como se quisesse esconder, Elena acompanhada pelos companheiros Remi Aguilella na bateria, Igor Haefeli e uma teclista/baixista adicional faziam a audiência vibrar com emoção a cada tema.
Com "How" e "Tomorrow", o espectáculo passou a oscilar entre momentos de límpida melancolia e explosão sónica. Sempre tímida e claramente impressionada pela reacção do público, a vocalista foi constantemente oscilando entre o baixo e a guitarra parando apenas de tocar para cantar "No Care", o momento mais elétrico do concerto, como se de uma libertação se tratasse. Modestamente foi agradecendo os elogios e declarações de amor que vinham do público, embora se notasse a cumplicidade entre Elena e o companheiro Igor Haefeli, chegando por vezes a dar a noção que ela lhe destinava algumas das letras.

Mas o momento maior da noite aconteceu quando o público reagiu efusivamente à primeira nota de "Youth", enquanto Elena afinava ainda a guitarra. A reacção foi tão calorosa que ela não conseguiu continuar a tocar. Parou, sorriu e agradeceu, iniciando então de novo o tema que foi cantado em uníssono com o público. Depois disso, foi várias vezes pedido para que o voltassem a tocar, mas isso não veio a acontecer.
A primeira parte do concerto acabou com a promessa de que "if you leave, when I go, find me, in the shallows" o que abria a porta para o encore que foi buscar um dos primeiros temas da banda - "Medicine". Seguiu-se uma explosão quase punk-rock de "Fossa", que foi antecedido por um pedido de desculpas de Elena por ser o último tema da noite. E na emoção do momento esqueceu-se de ligar a guitarra o que provocou o momento mais solto da vocalista que naquele momento já gozava de uma maior proximidade com o público e gozou com ela própria como se entre amigos se encontrasse.
E foi como amigos que acabaram com uma melancólica explosão sónica em crescendo, própria de uma noite tempestuosa de outono.
 Setlist:
- New Ways 
- Numbers 
- Alone / With You 
- How - Tomorrow 
- Winter
- Doing the Right Thing 
- Mothers 
- Love 
- No Care 
- To Belong 
- Human 
- Youth 
- Smother
- Shallows 
Encore:
- Medicine 
- Fossa 

Texto e Fotos Possíveis de Rui Gonçalves

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